sexta-feira, 11 de março de 2011

DIÁRIO DE BORDO - PARTE 3

DIA 25 (22.02)
Dia em Salvador, e como sempre Drill, que é uma simulação de emergência. Hj fui designado a ajudar um grupo de resgate, afz... Hoje tive a oportunidade de, após o término do meu horário de trabalho, poder jogar futebol! Me impressionei quando vi o cartaz informativo em um dos corredores do navio. Mas lá fomos em um grupo de 15 pessoas, de táxi, para uma quadra da prefeitura de Salvador, bem legal lá. Foi muito divertido jogar com gente da Guatemala, de Honduras, da Jamaica, do Peru, do Reino Unido e com os brasileiros (éramos a maioria!). Tinham 2 jamaicanos que jogavam bem, mas a maioria... Ah como eu senti saudades dos ‘futs’ com o pessoal da Vida Nova. E senti muita saudade mesmo foi dos lançamentos do Jhow (snif, snif), tinha um brasileiro que até tentava, mas não era a mesma coisa, sempre errava, só acertou 2, um passou perto do gol, mas foi pra fora, e o outro não teve jeito: caixa! Gooool! Fiz 2 gols, um de oportunismo, de rebote, depois que a bola bateu na trave, e esse de cabeça, dei vários passes que resultaram em gols e meu time ganhou... Hj pude conversar, via internet, com o Léo, o Rodrigo e o Márcio, gente que eu amo muito e que deixei no Brasil. Enquanto eu estou tc com eles, sinto-me feliz, como se minhas forças aumentassem, mas quando faço o ‘logoff’, e volto para a cabine, toda aquela alegria se transforma em saudades. É difícil, mais difícil ainda é saber que estou aqui por minha própria vontade. Ae começam a vir as lembranças de momentos em que vivi com essa galerinha, momentos que eu sempre vou lembrar. Acho que Deus está me curando aqui, me curando de algo que eu mesmo não tenho conhecimento do que é, mas a cada dia ele fala comigo tremendamente. Voltarei dando valor às mínimas coisas da vida. Mas agora tenho que ir... See you!

DIA 26 (23.02)
Hoje estamos em Ilhéus, Bahia. Durante a noite o navio balançou muito, mas não tive que tomar o remédio para enjôos. Me atrasei um pouco no teatro e tive que correr pra terminar os elevadores e decks 5 ao 2. Depois do break o Norman me colocou pra fazer o corredor dos crews, e depois checar os decks 5 e 6. Após o almoço, descemos eu, a Luana, o Lucas e o ??? para a cidade. A cidade tem um estilo antigo, com praça, catedral e etc. A Catedral de São Sebastião é muito linda e grande. Gosto muito de ver as arquiteturas de igrejas e catedrais, imagino quando chegar na Europa e contemplar as catedrais renascentistas, as góticas então nem se fala... Foi legal, tiramos muitas fotos e é isso que importa, imagino como vai ser meu book fotográfico quando eu retornar para casa, daki a uns 7 meses. Já se foi quase 1 mês, e hj eu ainda penso em ficar aqui, não sei o que pensarei amanhã. O que sei é que hj eu daria tudo só para passar apenas uma semana em casa, mas não posso, o jeito é matar o tempo ora dormindo, ora descendo nas cidades. Agora, vou ler um pouco e depois dormir, tchau!

DIA 27 (24.02)
Hoje é dia de “sea day”, estamos em alto mar, ao meio dia, o capitão informou que estamos  perto de Vitória, no Espírito Santo. Enquanto eu e o Renan fazíamos o corredor dos crews, no deck 1, ouvimos o alarme de incêndio, “Bravo! Bravo! Bravo!”, o Renan ainda disse que só faziam Drill quando o Rhaudy estava dormindo, mas eu logo disse: “O Drill do incêndio é antes do nosso, e o nosso é sempre em Salvador, na terça-feira”, ou seja, era incêndio de verdade! No deck onde eu moro! Ae veio um monte de gente que é responsável por isso correndo, o Staff Capitain também. E eu e o Renan sem saber pra onde correr, o que fazer, veio a Luana dizendo que estava muito quente no Twent Deck, e o fogo era lá, na sala de máquinas. Logo lembrei do navio que ficou sem motor lá perto do México, alguns meses atrás. Mas graças a Deus tudo deu certo, o pessoal controlou logo o fogo e nada aconteceu de pior, foi aí que fui perceber o quão importante são os Drills. Depois tivemos reunião com a Joleen, o Dilly e o Manager, a Joleen me pegou cochilando e me fez ficar o resto da reunião (uns 15 minutos) em pé. Agora estou na cabine, vou fazer o de sempre, ler e depois dormir, tchau!

DIA 28 (25.02)
Hoje o navio está em Ilha Grande, que fica no Rio de Janeiro, perto de Angra dos Reis, embora eu imagine que Ilha Grande seja uma das ilhas de Angra dos Reis... Após todo o serviço, almoçamos e eu, o Michel, o Lucas e a Luana descemos para conhecer o lugar. A cidade, até onde conhecemos, é bem aconchegante, em estilo antigo, mais antigo até que Ilhéus, com uma igrejinha de estilo barroco e várias pousadas. Visitamos o “Poção”, uma espécie de cachoeira pequena, em que se forma um tipo de piscina natural. Depois comemos uma pizza, que me fez lembrar os momentos com o Jhow, o Rafael, o André, o Bruno... Passeamos um pouco pela cidade e voltamos ao navio. Amanhã estaremos em Santos, é desanimador saber que estou tão perto de casa e não posso descer. Daqui a uns 40 dias estaremos na Europa! Isso é a única coisa que me faz continuar aqui. See you!

DIA 29 (26.02)
Dia cansativo! Hj parece que o luggage de Santos foi o maior de todos. Fomos das 13h até quase 17h. Após o trampo, recolhi-me à minha cabine para descansar, sem antes lembrar que hj é níver do Rodrigo, e de que hj também, o povo da Vida Nova está fazendo um AcampaDentro lá na igreja. A igreja deve estar uma bagunça só. Lembro-me dos Acampadentros que eu participei, sempre foi D+!!! Saudades... Lembro-me também de cada pessoa que deve estar lá, cada rosto brilha na minha cabeça e me faz ficar com mais saudades. A palavra de hj, em que estou a meditar é bem condizente com o que sinto ao lembrar de tudo isso: “quero trazer à memória aquilo que traz alegria”. Mas logo eu estarei de volta, já estou quase vencendo a primeira etapa, das 8 que precisarei vencer. See you!

DIA 30 (27.02)
Como todo luggage, a gente hoje entrou às 3h, ou seja, a gente perde 2h e temos que fazer tudo voando, mas no teatro não tem como ser mais rápido, e eu tive que deixar coisas por fazer. Hoje o navio balançou muito, o Michel disse que até no setor dele deu pra sentir, quando o dia estava quase amanhecendo, fui ver como o mar estava e vi que realmente as ondas estavam bem altas, mais do que de costume. Vim na cabine tomar um remédio e o meu supervisor me pegou, pensando que eu estava voando. Voar: ir para a cabine quando em horário de trabalho para descansar, matar o tempo ou outras coisas. Depois me expliquei e ele disse que eu teria que avisá-lo. Os dois luggages foram bem rápidos, acho que levamos menos de uma hora para cada. Hoje foi domingo, daqui a pouco tem culto na Vida Nova, que saudade. Aqui tem um tipo de reunião cristã, aos domingos também, mas começa as 21h e vai até 23h, hj vou tentar ir, pq é muito difícil levantar mais cedo do que de costume.

DIA 31 (28.02)
Mais um dia normal à bordo do Vision of the Seas. Fiz a minha área hj com a companhia de uma “new hire”, ou seja, de uma nova tripulante, a Taís, que é do Rio de Janeiro. Fizemos toda a área no tempo normal e terminamos às 7h em ponto, já indo para nosso break. Depois o Norman fez o de sempre, me mandando cada dia fazer uma coisa. Hoje ele me mandou para a “Netfive”, uma espécie de corredor principal da área de tripulação. Fiquei lá até a hora de terminar o expediente. Amanhã estaremos em Salvador, estou pensando em descer, ainda não decidi, mas preciso descer mesmo em Salvador, pois só desci lá na minha primeira semana e na semana passada, mas foi para jogar bola. Nem sei o que pensar quando vejo que daqui 40 dias estaremos na Europa, um sonho será realizado. Agradeço à Deus por isso. Agora vou ler um pouco e depois dormir para recuperar a energia.

DIA 32 (01.03)
Hoje estamos em Salvador, Bahia. A gente só trabalhou 8 horas hoje, pegamos a 1h e fomos até as 7h, fizemos o break e depois quando voltamos, ficamos das 8h até ass 10h e depois foi nosso segundo break, aí vieram o Drill, uma espécie de treinamento de emergência que fazemos toda semana, e depois a “All Crew Meeting”, uma reunião geral com toda a tripulação e toda a chefia do navio, até o capitão Sreko Ban está nessa reunião. Como sempre, eles nos brindam com um pequeno show do pessoal artístico do navio, hj foi o “Terra Brasil”, um espetáculo com músicas brasileiras, cantado e dançado. Depois tivemos a reunião dos Facilities, que já é somente do nosso setor. O Diretor de Rh do Navio, o Samar (indiano) perguntou quem é que limpava a “netfive”, o Norman fez com que eu e o Rafael levantássemos a mão, pensei que vinha bronca, mas ele elogiou pelo excelente trabalho que nós fazemos ali, pois por ser área de crew, está bem limpa. Depois, quando acabou, era hora de bater o ponto e ir pra cidade, hj fomos apenas no Shopping Barra, que é muito grande e ficamos só lá. Comprei um fone de ouvido, assim é melhor de ouvir música e de teleconferências pela net. Chegamos quase 19h e estamos super cansados, vamos tomar basnho e dormir, pois daqui a pouco temos que pegar no trampo...

DIA 33 (02.03)
Dia de navegação. Saímos de Salvador e estamos indo para Búzios. Hoje o navio balançou muito, mas muito mesmo, tomei o remédio para enjôo, mas memso assim ainda fiquei meio mal. Não aconteceu muita coisa para escrever, assim que terminou o trampo, eu almocei e vim pra cabine, tomei um banho, li um pouco e dormi. Amanhã em Búzios, pretendo descer e procurar um lugar com wi-fi para poder mandar a carta que escrevi para a igreja, foi bom poder escrever esta cara, pois eu pude expressar um pouco o que estou sentindo. See you!

DIA 34 (03.03)
Hoje estamos em Búzios, após o trampo, eu, o Lucas, o Michel, a Luana e a Thaís descemos. Estava chovendo um pouquinho e a única coisa boa foi que usamos a internet de uma sorveteria pelo preço de um refrigerante em lata. Pude ler alguns e-mails e mensagens que deixaram pra mim, conversar com alguns amigos e saber o que está acontecendo no Brasil. Como sempre, conversar com os amigos me deixa na maior deprê, principalmente agora, que estou aqui nessa cabine, sozinho. Pude enviar a carta que escrevi para o pessoal do Brasil, será que vão ler? Quem irá se importar com o que eu estou passando aqui? O jeito é aceitar que eu estou aqui somente pq fui eu mesmo que quis. Agora vou dormir, good-bye!

DIA 35 (04.03)
Hoje estamos em Ilhabela, São Paulo. O dia está nublado, mas está muito quente assim mesmo e a nossa turminha de sempre (EU, A Luana, a Taís, o Michel e o Lucas) resolvemos descer, parece que a gente é mais turista do que os guests. O Lucas com suas filmagens no iPhone e a Luana sempre querendo tirar fotos... Pude ligar pra casa, falei com minha mãe e com meu irmão menos, o Samuel, foi a primeira vez que falei com ele desde que estou embarcado. Também liguei para minha tia Roseli, falei com ela e com minha vó, com esta foi mais difícil de falar, pois ela só chorava, rsrs. Depois fomos para um restaurante que tinha internet e ficamos algumas horas lá, pude voltar a ficar sabendo o que está acontecendo. Agora estou na minha cabine, amanhã é Santos e eu vou tentar pedir pra Jolee para ter um break maior e poder ver minha família, mas só Deus pra quebrantar o coração daquele mulher, pois em Santos é quase impossível a gente descer por causa do luggage, mas se for da vontade de Deus...

DIA 36 (05.03)
Hoje foi luggage em Santos. Hoje o Norman foi embora, depois de 8 meses longe de casa, ele vai ter férias, poder rever a família e amigos, na cara dele dava pra ver um misto de felicidade por poder estar indo pra casa e tristeza de ter que deixar os amigos aqui, mas são só 6 semanas e daqui a pouco ele está de volta, o Hunter ficará no lugar dele. Tentei pedir pra Jolee para que eu juntasse 2 breaks em um só e, assim, tivesse duas horas, para poder marcar um encontro com o pessoal de casa lá no terminal de passageiros mesmo. Assim como ela disse não pro Michel, que pediu a mesma coisa, só que no Rio de Janeiro, pra mim foi igual. Tentei argumentar dizendo que era de Santos e tals, a resposta dela foi de que “se eu sou de Santos, ela é da Nicarágua.” Fazer o que né? O luggage foi muito pesado hoje, pois entraram 2.100 guests, mais ou menos, o que dá uma médio de quase 5 mil malas. Começamos 12h30 e terminamos às 16h30! Correria, ralaria e eu pensando estar em Santos e não poder descer, deu raiva. Agora vai começar o cruzeiro de carnaval, teremos over-night em Salvador, a única que faremos no Brasil. Agora vou ouvir um pouco de música e depois dormir, não quero ler hoje, já terminei o livro que estava lendo e amanhã talvez eu comece outro.

sexta-feira, 4 de março de 2011

DIÁRIO DE BORDO - PARTE 2

DIA 13 (10.02)
Hoje estamos em Búzios, após o trampo resolvemos descer um pouco. Já em terra, fomos à uma praça em que tinha wifi, pude conversar com alguns amigos e publicar no blog, espero que alguém leia. Mas tivemos que voltar logo, pois tínhamos treinamento às 5h, após o treinamento fomos eu e a Thaís para a internet do navio, que é super cara, mas ficamos uns minutos lá, pude teclar com o Rodrigo e o Léo, foi bom poder voltar a conversar com eles, mas a saudade bateu, acho que a partir de agora que a ficha vai cair, e eu vou me dar conta do que eu fiz, do que eu escolhi. Mas como eu tenho uma palavra que diz DEUS ESTÁ NO CONTROLE, vou até o fim, custe o que custar, doa o que doer. Fique sabendo que vai ter a festa do níver do Daniel, imagino a mulekada já reunida... Agora vou tentar dormir um pouco, pois preciso...

DIA 14 (11.02)
Hoje, como dormi muito pouco ontem e hoje, estava super mal, com fome e enjoado, quando estava quase terminando o Masquerade, pedi ao Dilly uns 15 minutos para poder tomar um café, ele concedeu. Mas junto com o café veio um chá de limão, cereal e leite. O café daqui é muito ruim, eu coloco um monte de sachês de açúcar e ele não fica doce, já estou até com saudade do café que o André fazia quando eu, ele e o Dantas ficávamos a noite toda jogando game. Parece que já estou aqui há tanto tempo... mas esse eh apenas o 14º dia, amanhã, em Santos, fazem 2 semanas que aqui estou. Santos é o único lugar em que eu faria qualquer coisa para ter um tempo livre de trabalho, para pode descer, visitar os amigos, a minha família e tal, mas é o único lugar também que não posso descer, devido ao excesso de trabalho e a carga horária, dá até raiva de saber disso... Hoje estamos em Ilhabela e fomos no Sea Club, como lá tem internet  wifi, pude me conectar ao mundo exterior, ao mundo que continua girando do lado de fora dessa grande banheira flutuante. Conversei, dentre outros com o Márcio, o Jhow e o André, que são lá da Vida Nova. Não sei, conversar com eles é bom, saber como estão as coisa lá, das novidades, mas quando eu chego aqui nessa cabine pequena, fico relembrando as palavras que trocamos e a saudade aí sim vem querer me atormentar. Mas tenho que ser forte né, afinal, foi isso que eu escolhi... See you!

DIA 15 (12.02)
Hoje o luggage foi dureza, acabamos quase as 17h, entrou no navio em torno de 2 mil passageiros, o que dá quase 4 mil malas, mais ou menos. De manhã, no meu primeiro break, pude ligar pra casa, falei com minha mãe e depois com minha avó e com meus tios, depois do luggage, conversei também com o Rafael, lá da Vida Nova, foi bom conversar com essas pessoas, mas como já disse, quando chego na cabine e fico lembrando da conversa, acabo lembrando também dos momentos bons e ruins que passei com essas pessoas, dá saudade. Amanhã eu entro as 3h de novo e vou até as 17h com pausas para o break, mas o luggage do Rio de Janeiro é suave em comparação com o de Santos. Bom, agora preciso ir dormir, pois já tem uns 3 dias que só durmo 4 horas...

DIA 16 (13.02)
Como é de praxe, o dia de luggage no Rio é suave, em menos de 1 hora a gente terminou tudo, e em tranquilidade, sem precisar daquela correria que tem em Santos. O resto foi o mesmo de todo dia, fiz o teatro Masquerade e os decks 2 ao 5. Uma coisa ruim aqui no navio é que vc tem que sempre fazer a mesma coisa, todo dia. Mas uns dizem que em terra é a mesma coisa... Amanhã eu trabalho uma hora a mais, pois quando vamos pra Salvador, precisamos atrasar uma hora, pois no Nordeste não tem horário de verão. Mas tudo bem né, quando o navio sai de Salvador, a gente trampa uma hora a menos, já que temos que adiantar uma hora. Agora vou nessa, see you!

DIA 17 (14.02)
Estando a tantos dias aqui nesse navio, onde a comida é importada e os canais de televisão são internacionais, até me esquece que ainda estou no Brasil. Mas hoje, enquanto me arrumava para ir trabalhar, pude ver a última parte do Fantástico, programa dominical que passa na Globo. Lembrei-me do Brasil, mas do Brasil que eu vivia há 18 dias atrás, do Brasil que, quando eu via o Fastástico, estava no BigBen Lanches, comendo um X-Frango com Dolly Limão (quando o André não inventava de trazer Dolly Maçã) com a rapaziada da Vida Nova. Se nos meus últimos dias de Brasil, eu não estava muito afim de ir pra igreja, hoje posso dizer que estou sentindo tanta falta daquele lugar. Aqui tem culto cristão, não sei como é, ainda não tive a oportunidade de ir, mas com certeza não é igual aos tantos cultos que eu participei na Vida Nova. Estou pensando em escrever um e-mail direcionado à toda a igreja, especialmente aos jovens, quem sabe eu faça isso assim que encontrar as palavras certas para me expressar melhor...

DIA 18 (15.02)
Mais um dia tranquilo, digo, até a hora em que terminei meu serviço, pois precisava ir lavar minhas roupas, que consistem em meias, cuecas e meu uniforme. Lavar roupa dentro do navio é o que qualquer tripulante não quer fazer jamais, pois as roupas são lavadas em uma máquina apropriada, que gasta 42 minutos lavando, quando vc coloca sua roupa, o sabão e liga a máquina, ela trava a porta e só libera 42 minutos depois. Mas onde é que nós secamos nossas roupas? Não, não colocamos as peças de roupa em um varal perto da piscina nem em cima da torre de comando. Tem uma máquina que seca sua roupa, depois de 45 minutos de espera, esta não trava a porta, vc pode tirar a roupa quando quiser, mas podem ainda estar molhadas. Ou seja, 1h27min para completar todo o processo, e durante o processo eu ia aproveitar para ir almoçar e depois passar no centro médico, mas o refeitório fechou antes e fiquei sem almoçar, e o centro médico só ia começar a funcionar as 15h, pensei em ir no HR, que é o que chamamos de RH no Brasil, para resolver um problema, mas estava fechado também e só ia abrir as 19h. Vim pra cabine, escrevi tudo isso, vou ler um pouco e depois dormir, para amanhã começar tudo de novo!

DIA 19 (16.02)
Hoje foi o niver da Thaís, teve festiva na cabine do Pedro, nem fui, sei como são essas festinhas. Fui com o Deivide para a academia do navio. Ele serviu de personal trainner, me mostrou como usar os equipamentos, para que serve cada um e quanto devo fazer. Já começo a ficar dolorido, ele falou que é normal, na verdade eu estava precisando de alguma atividade física, desde que saí do “Brasil terra”, não fiz mais nada. Não que antes eu fizesse, mas pelo menos tinha o futebol com o pessoal do Vida Nova F.C. Agora não tenho mais isso, e fico imaginando como será que eles estão jogando sem mim, não que eu faça falta, mas dá saudade, queria estar com eles, mas eu escolhi outro caminho, um caminho que me levará ao Velho Mundo daqui a pouco mais de 2 meses, e estou vendo que este para viajar por este caminho, tenho que pagar certos preços, abrir mão de certas vontades, mas saber que daqui a pouco, daqui alguns meses, estarei de volta, cheio de histórias e de saudades para compartilhar com todos eles. Ao pessoal da Vida Nova, saibam que eu amo a cada um de uma maneira especial! Bom, vou dormir pq daqui a pouco tenho que levantar para mais um dia de trampo.


DIA 20 (17.02)
Após a aula de musculação que o Deivide me passou, ele disse que eu a acordar todo quebrado, graças a Deus isso não aconteceu, apenas acordei com um braço doendo, mas foi pq devo ter dormido de mal jeito, pois logo ele passou, hj foi bom de trabalhar, mesmo o navio balançando muito eu não enjoei, fiz o Masquerade no mesmo tempo de sempre, aproximadamente 3 horas, e depois fiz as escadas, deu até tempo de ver o nascer do sol do deck 5. Depois do primeiro break, eu, a Thaís e o Rafael fomos lavar cadeiras no deck 10, bagunçamos bastante. Depois, tínhamos treinamento (isso nunca acaba?) e como o treinamento acabou 15 minutos mais cedo, fomos no Café tomar um café, encontramos com o capitão Srenko Ban, que nos cumprimentou com um “Bom dia, tudo bom?” em português, rsrs e conversamos um pouco com a menina do café, que dentre outras coisa disse que no corredor onde eu e a Thaís moramos, um filipino se matou e dizem que já o viram por aqui depois disso... :S Após, ligamos para o Norman que nos mandou de novo para as cadeiras do deck 10, mas ficamos apenas uns 30 minutos, pois deu a nossa hora. Agora o pessoal tudo desceu em Búzios, eu preferi ficar aqui, pra ler um pouco e depois dormir.

DIA 21 (18.02)
Hoje eu terminei o serviço mais cedo, e se eu mostrasse ao Dilly que tinha terminado mais cedo, ou ele me daria outra coisa pra fazer, ou me mandaria para o break mais cedo do que eu gosto, então fui para o deck 5 e fiquei no corredor externo vendo o mar e conversando com um guest de Minas Gerais, conversamos por uns 20 minutos e depois chegou o Kostyantin, tiramos fotos com o guest e fiquei sabendo que o Kostyantin vai embora amanhã. Enquanto conversávamos, um cardume de golfinhos começou a seguir o navio, deram uns 5 saltos por fora da água, parecia cenas de filme. Depois, descemos em Ilhabela, a turminha de sempre, almoçamos em um belo restaurante que tinha internet wifi, e pude conversar com alguns amigos, entre eles o André, da Vida Nova. A comida estava maravilhosa, acho que foi a primeira vez que eu comi com gosto depois que entrei nessa grande lata velha que flutua. Voltamos para o navio e eu e o Deivide fomos no HR pra pegar um formulário que nos dá direito a uma coisa muito boa, mas que só contarei o que é assim que se confirmar. Agora vou dormir pq amanhã é ralaria em Santos, de manhã desembarque e a tarde embarque...

DIA 22 (19.02)
Hoje foi dia de luggage e foi aquela correria né. Marquei de me encontrar com um tio meu que traria algumas coisas para mim, mas esqueci de que, ao contrário dos portos de Salvador e Rio de Janeiro, aqui em Santos não se pode entrar na área portuária sem um credenciamento, ou seja, meu tio quase foi preso pela Polícia Portuária... Tentei encontra-lo no meu break de 1 hora e meia, fui até o terminal de passageiros e ele já tinha ido embora, mas despachou minhas coisas como bagagem de crew. Dentro do ônibus que me levou e me trouxe do terminal, pude lembrar do dia do meu embarque, foi há 22 dias, mas já parece uma eternidade, o dia em que vi minha mãe  e pessoas que amo pela última vez, deu saudade... Voltei para o navio com 40 minutos de atraso que, por sorte, não foram notados pelos meus supervisores. Recebi as coisas, minha mãe mandou mais até do que eu pedi, rsrs. Liguei para a minha vó materna, coisa que ainda não tinha conseguido fazer, que ela chorou ao telefone nem preciso dizer né. Conversou comigo por uns 5 minutos pensando que era meu tio de Curitiba. Ela disse que a Dª Valmira está vindo para cá dia 01/04, foi bom saber disso, quem sabe eu dou uma passadinha na cabine dela, rsrs. O luggage foi cansativo, agora, que já guardei tudo o que recebi (minha cabine está parecendo uma bomboniere), vou tomar um banho e dormir, pois já volto ao trampo às 3h00.

DIA 23 (20.02)
Luggage tranquilo aqui no Rio de Janeiro, aliás, nem fizemos o da manhã, pois quando retornamos de nosso break, ele já tinha terminado. No break do almoço fui com a Ana no MacDonald’s aqui do Rio, que fica bem pertinho do Terminal de Passageiros. Foi a primeira vez que consegui9 descer no Rio, e lembrei o dia em que eu fui tirar meu visto americano. O luggage da tarde, que são os passageiros que estão embarcando hoje, foi suave, com 2 horas +/- a gente já tinha terminado. Fui então tomar um café no Deck 6 e acabei ganhando uns MM’s, a moça de lá é bem legal com a gente. Agora, que a minha cabine parece uma bomboniere, nem sei o que comer, vou tomar um banho e dormir, amanhã tem mais.

DIA 24 (21.02)
Como sempre, na noite em que o navio sai do Rio de Janeiro ele balança muito, mas não foi preciso tomar o remédio que, aliás, descobri hj que o navio fornece aos tripulantes, peguei um monte, rsrs. Hoje não se tem muito o que falar, foi a mesa coisa de sempre, Masquerade e escadas do deck 5 ao 2 antes do break e depois à serviço do Norman. Hj ele me mandou para o que seria a minha área mesmo, o que está no meu cartão de cleaner, mas que eu só fui lá uma vez (e me perdi, quase entrei na cabine do capitão, rsrs). E depois fui fazer as escadas de crew, 42,43 e 44, como eu moro na 42, aproveitei e dei uma passada na cabine para descansar um pouco, tomar um suco e tals. Agora que já tomei banho e fiz a barba, vou ler um pouquinho e depois dormir, estou precisando.