quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Algumas Palavras...

Bom gente, estou aqui para informar que me mudaram (de novo!) de navio. Agora vou para o "Vision of the Seas" e embarcarei apenas um dia antes, dia 29/01/11, em Santos mesmo. Por um lado foi bom, pois sei que um amigo que fiz durante o processo de embarque estará nele também, e o itinerário dele é melhor que os dos outros dois navios para o qual eu ia. Agora eu fico mais tempo no Brasil, mas depois, quando o navio for para a Europa, ficarei entre o Mediterrâneo e o Mar Báltico, passarei por 22 países, entre eles: Alemanha, Irlanda, Inglaterra, Espanha, Portugal, Dinamarca, Suécia, Polônia, Egito, Israel, Itália...
Tá chegando o dia, só faltam 2!!! Na segunda já tive a minha despedida com o pessoal do futebol, foi legal, marquei 2 gols e me despedi dos que já não ia ver mais. Agora estou aqui nos últimos detalhes da viagem de 9 meses. Antes do embarque vou tentar postar ainda... 
A dica de hoje é o blog da Joice, New Life on Board, que embarcará no Vision tb.
See you latter!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O PROCESSO TODO

Estava no quinto estágio do curso de inglês quando resolvi preencher o formulário de uma empresa cuja função é contratar funcionários para companhias de cruzeiros. Já havia tentado antes, sem sucesso. E, mesmo que fosse chamado, a faculdade não deixaria que eu me ausenta-se por seis, oito ou dez meses, o período básico de um contrato em um navio de cruzeiros.
De fato, já havia até esquecido deste projeto, o que reacendeu o desejo de ingressar nessa área foi que, em uma certa manhã de sábado, ao chegar para mais uma aula de inglês, meu amigo Weslley (hoje no Costa Victoria) informou-me que havia sido chamado para uma entrevista, e aconselhou-me a fazer um cadastro também. Como já havia feito o cadastro antes, apenas atualizei meus dados, informando que já havia terminado a faculdade de Letras, que cursava à época do cadastro. Foi tudo muito rápido, em menos de dez dias eu já havia sido chamado para uma entrevista – em inglês –, havia sido aprovado e estava fazendo os cursos de “Vida a Bordo”, que é basicamente sobre os procedimentos de embarque e desembarque, normas contratuais, problemas médicos, descrição da posição, salários e toda a rotina de um tripulante em um navio de cruzeiro, e o “Específico”, que é voltado para o departamento que você pretende atuar. Pois muitas vezes o candidato tem conhecimento e experiência na área que foi aprovado, mas nem sempre suficientes para os padrões exigidos em um navio de cruzeiro, esse curso serve para informar como é a rotina de trabalho a bordo e também prepara para a entrevista final com a companhia contratante, lhe proporcionando melhores chances. Também já sabia a minha função e a minha companhia: eu seria cleaner na Royal Caribbean International.
Dezesseis dias após a primeira entrevista, já havia feito os cursos e estava diante do entrevistador da companhia, um dos responsáveis pelo recrutamento no Brasil. Devido ao nervosismo, muitas palavras me fugiram na hora, fato que me deixava ainda mais nervoso e que me fez crer que não seria aprovado. Deram o prazo de uma semana para que chegasse a resposta, via e-mail. Quando abri minha caixa de correio eletrônico não acreditei com o que lia, estava aprovado. Começaria então uma nova correria, a do passaporte, do STCW, dos exames médicos necessários e de toda documentação, em poucos meses eu estaria embarcando em um navio em alguma cidade do mundo.
Alguma semanas depois, recebi o e-mail com a minha data de embarque e o nome do meu novo lar, embarcaria dia 13/03/2011 no Mariner of the Seas. Nesse tempo, fui ao posto da Polícia Federal para tirar o meu passaporte. O atendimento foi super rápido, cerca de dez minutos. Isso ocorre porque, antes, é necessário o preenchimento de um formulário no site da Polícia Federal e a ida ao posto, com hora marcada, é apenas para a confirmação de dados e coleta de assinatura e digitais. No prazo estabelecido, sete dias, estava pronto o meu passaporte.
Como fui contratado por uma companhia americana, eu precisava de um visto americano para tripulante de navio, o C1/D, um visto emitido pelo Consulado dos Estados Unidos para tripulantes de navios de cruzeiro. Na realidade este visto são dois, pois o C1 é um visto de trânsito, que assegura ao tripulante de navio permanecer 72 horas em solo americano sem a necessidade de visto de turismo e o visto D é o visto destinado a marinheiros e tripulantes de navios. E caso seu navio tenha o território americano como ponto de parada, este visto se torna obrigatório também. Pelo mesmo método do passaporte, foi necessário o preenchimento de um formulário on-line, onde, dentre tantas outras perguntas, tive que responder se estava indo aos EUA para me prostituir, se tinha me prostituído nos últimos dez anos, se já participei de processos de tortura, se já me juntei com grupos de milícias, narcotráfico ou terrorismo, se pretendia me juntar a tais grupos e se sabia manusear armas de fogo. Foi marcada então, uma data para que eu fosse ao Consulado Geral Americano fazer a entrevista.
De 6 a 9 de dezembro/2010 foi o meu STCW, sigla de Standards of Training, Certification and Watchkeeping for Seafarers (Normas de Formação, Certificação e Serviço de Vigia para os Marítimos) que no bom português virou CBSN (Curso Básico de Segurança em Navio). O objetivo do curso é “qualificar o aluno, não tripulante, para tarefas a bordo de navios de passageiros, dando-lhe conhecimentos básicos sobre medidas de segurança a bordo, de acordo com algumas regras e normas”. São 34 horas, divididas em 4 disciplinas: “Segurança Pessoal e Responsabilidade Social”, “Primeiros Socorros Elementares”, “Prevenção e Combate a Incêndio (teoria e prática) e “Técnicas de Sobrevivência Pessoal e Procedimentos de Emergência (teoria e prática)”. Para ser aprovado, o participante precisa obter de nota igual ou superior a 6,0 (seis) em uma escala de 0 a 10 na avaliação teórica, ter uma frequência mínima exigida de 90% do total das aulas, ser aprovado em prática de salvatagem e sobrevivência que consiste em: “saltar de uma plataforma de 3m, utilizando colete salva-vidas”, “nadar 15m com colete salva-vidas”, “permanecer flutuando por 10 minutos”, “praticar o acesso a partir da água para a embarcação de salvamento utilizando colete salva-vidas”, “ser aprovado em prática de combate a incêndio que consiste em combater incêndio de pequenas proporções utilizando extintores e mangueira”. Graças a Deus fui aprovado, e o salto da plataforma de 3m não foi tão difícil assim.
Marcaram então o dia da consulta médica, no próprio escritório da Infinity Brazil tem um setor médico. Chegando lá algumas pessoas aguardavam o atendimento, a maioria não era de primeiro contrato, e foi bom conversar com essas pessoas, eles te dão muitos feedbacks que ajudam muito. Na minha vez, após preencher alguns formulários da própria Royal Caribbean, a médica fez algumas perguntas sobre determinadas doenças, se eu já tive ou se alguém da minha família teve, respondi tudo não. Logo depois colhi a amostra para o exame anti-dopping. Fiz a maioria dos exames solicitados na rede pública de saúde (SUS), paguei apenas por 2, pois esqueci deles e tinha que ter logo o resultado. E acabava essa etapa pra mim.
Como estava perto o dia da entrevista no Consulado Americano, fui na Infinity buscar os documentos que eu teria que apresentar lá no Rio de Janeiro, já que no Consulado de São Paulo não tinha mais vagas. Foi quando reparei que algo estava errado na minha carta de embarque, lá marcava “Splendour of the Seas”, falei pra eles que estava errado, que eu iria pro “Mariner of the Seas”, foi quando fui informado de que haviam me mudado de navio, e que tinha adiantado minha data de embarque, não embarcaria mais dia 13/03/11, embarcaria dia 30/01/11, havia perdido quase 45 dias! Fiquei meio triste, pois já conhecia uma galeria do Mariner e já gostava do navio.
Chegou então o dia da entrevista no Consulado Geral Americano, na cidade do Rio de Janeiro, que foi super tranqüila. Em inglês, o entrevistador perguntou-me por que eu queria o visto, qual a companhia que eu iria trabalhar, o nome do navio, a posição que eu iria exercer no navio, quanto eu iria ganhar, se esse valor era por mês ou por semana e qual o motivo que me fazia ir trabalhar em navio. Depois de uma semana meu passaporte chegou com o visto de um ano, o que me deixou triste, já que a todos que eu conhecia estava ganhando 5 anos.
Nos últimos dias de dezembro/2010, fui em um posto de saúde perto de casa para tomar as vacinas de febre-amarela e anti-tetânica, descobri que tinha uma vacina atrasada, levei mais um furinho no braço. Logo no início de 2011 fui no posto da ANVISA em Santos para tirar a minha certificação internacional da vacina de febre-amarela, pois todo viajante que sai de um país com foco da doença tem que ter essa certificação, e principalmente quem vai para a Europa. Fui super bem atendido, atendimento que, aliás, foi super rápido e eu já saí de lá com a certificação.
            Bom, esse foi o meu processo, não sei, deve variar um pouco de agência para agência e de pessoa para pessoa, mas não foge muito. Espero ter ajudado alguém que queira entrar para o mundo de tripulante e não sabe ainda os procedimentos. Agradeço a amiga Robertinha, que embarcará no Splendour of the Seas também, só que uma semana depois que eu, ela também mantém um blog que conta tudo sobre como está sendo o processo dela, vale a pena conferir: VIDA DE TRIPULANTE.